Pranayama

- Quando ficar velha quero ficar igual você.
Isso é um insulto ou elogio? Deus me ajuda! O que digo, obrigada? Velha eu?  Jesus, você morreu com 33 anos, mas se tivesse vivido até os 45 o que responderia?
- Obrigada.
- Te acho bonitona, diferente. Insistiu a moça do guarda-volumes da academia
Ai ai depois dos quarenta você não é bonita, é no máximo bonitona, conservada, diferente, exótica.
Estava tão atrasada para a aula de yoga que graças a Deus nem pensei muito no bonitona-diferente.
Cheguei esbaforida, tinha acabado de fazer bike e minha respiração não era digamos a ideal para uma aula de yoga.
Por que comecei a fazer yoga? Pra amarrar meu tênis quando esse ato fosse ficando cada vez mais difícil. Pra aplacar a ansiedade, pra ter aquele olhar misterioso dos indianos, pra ver que diacho acontecia nessas aulas sempre lotadas,  pra ver de perto o que apetecia essas pessoas bonitas, corpo definido sem parecer o Conan,   jeito descolado-diferente.
Sei lá porque, só sei que comecei.
Mas já havia tentado outras vezes. Grávida do Pietro comecei fazer aula no CEPEUSP com um professor famoso coisa e tal, uns oito quilos a mais, equilíbrio nulo, coordenação idem, a cada postura eu soltava um pum. Eu já estava querendo processar o professor por constrangimento ilegal. Saí de lá jurando que nunca mais faria aquilo e fui soltar pum em casa.
Segunda tentativa foi com uma professora bem hippie-zem-cabelo-desgrenhado. Adorei o jeito dela, porém não agüentava aquela paradeira toda, o Pietro já havia nascido e eu precisava urgentemente me livrar daquela pança-bunda-coxa  não vamos falar de peito, pois naquela altura eu era uma fábrica de laticínios.  O fim de tudo foi quando ela disse pra imaginarmos uma luz azul e ficamos deitados  por uns dez minutos imaginando a tal da luz azul. Um filho pequeno, leite vazando, casa pra limpar, três dias sem me olhar no espelho e ficar dez minutos imaginando luz? Fui embora pra nunca mais.
O fato é que o mestre vem ao encontro do seu discípulo. Tudo tem a tal da hora certa. E quando ela chega tudo é perfeito, tudo se encaixa o que antes era ridículo, hoje faz todo o sentido.
Me encontrei novamente com a yoga meu professor tem um estúdio na redondeza e dá aulas na academia também. Confesso que no começo fui para me alongar, mas fui ficando e gostando, respirando calma e profundamente, prestando atenção no meu corpo ( a tal da consciência corporal), deixando de olhar para os outros e olhando pra mim, pra dentro, profundo.  Limitar-me aquele momento, sem distração, mantendo o foco limitando  o olhar ao tapete  usado para fazer as posturas. No silêncio me ouvi, na penumbra me enxerguei. Nesse momento sou eu.
Sábado fui assistir com o Paolo (companhia deliciosa) "La piel que Habito" de Pedro Almodovar, lançamento por aqui. Um filme pesado, obscuro, diferente de tudo que vi e do folclore que criei de Almodovar. Numa determinada cena a mocinha do filme vê um vídeo sobre yoga onde a instrutora diz que no yoga encontraremos parte do nosso eu onde ninguém mais tem acesso, somente nós mesmos, nesse lugar ninguém pode te ferir, destruir, pois só você tem acesso. Achei muito boa a definição.
Estava tentando me concentrar hoje no jardim, os meninos viram e riram de mim, pegaram a máquina e fotografaram a mãe fingindo  ser uma indiana,  estar na Índia e ser uma yogui séria.