Que estranho chamar-se Diacuy.

"Ela entendeu algo de mim.

Foi isso que pensei quando entrei no carro pra voltar pra casa, depois de umas horas gostosa ao lado da Tereza. A conheci no facebook, como ela mora em um bairro "vizinho" ao meu,  marcamos em uma  livraria  para a gente se conhecer.

Mulher bonita, inteligente, bem humorada, falamos de arte, filosofia, filhos, marido e academia . reparem a ordem decrescente no quesito assuntos que agregam.

Uma vez comentei sobre luz e sombra na fotografia,
Ela me deu um livro sobre Caravaggio o pintor italiano que usava a luz  e a sombra para pintar um realismo dramático...."

Foi assim que comecei um post no dia que conheci a Tereza, porém nunca o concluí, apesar de chegar em casa super feliz e com vontade de contar a todos vocês o que tinha me acontecido. Faltou ânima.

Faz algum tempo que me sinto desafiada, pelo meu inimigo particular a trabalhar texturas na fotografia. "Preciso dominar a sombra e não temê-la."  Repito como um mantra. Esse assunto tem sido recorrente em  minhas viagens mentais. Tanto que comentei no facebook e a Tereza lembrou-se de mim quando viu o livro de Caravaggio.

Quando você quer uma coisa a ponto de pensar muito nisso, o caminho que te levará ao objeto do teu desejo se desenha sozinho ao seu redor, precisamos só reconhecer as pistas.
Estava em casa distraída com as tarefas domésticas, pensando na quantidade de fotos que tenho que tratar e de repente tive um lampejo: Vou ao cinema assistir: "Que Estranho Chamar-se Federico".
Segui a pista, deixei tudo pela metade, deixei filhos e fui.

Fazia tempo que não chorava no cinema, mentira eu chorei em A Culpa é das Estrelas, porém falo de outro choro, o choro que vem quando você se depara com o belo, com a arte, com algo mais que nem todos percebem, como um código secreto que só aqueles que o reconhecem são tocados.

O filme é uma homenagem de Ettore Scola á Fellini. Lindo! Me reconheci tantas e tantas vezes. Claro que não estou comparando Fellini com Baú da Lola Diacuy.
Fellini buscava inspiração nas ruas de Roma, saía pelas madrugadas a dirigir sem rumo na companhia de Scola, oferecia carona a transeuntes comuns, artistas de rua, bêbados, prostitutas e assim conhecia histórias de vidas e pontos de vistas diferentes, isso o enriquecia, o inspirava.
Quando eu preciso de inspiração, vou ao cinema. Preciso saber de onde vem a luz, pra  onde ela rebate, como ela se  dispersa, a luz  da volume ao plano, textura ao liso, cria sentimentos e percepções diferentes.
É com isso que alimento meu olhar e de alguma forma fico com minha sensibilidade ao novo enriquecida.
Fellini diz no filme que a criatividade não é algo que você busca. Criatividade é como uma doença, uma gripe, você não programa uma gripe, ela vem e te pega de surpresa e quando você vê está realizando,  os efeitos dela é inevitável.
Eu acredito que se a criatividade é como uma gripe ir ao cinema me torna mais exposta ao "vírus", ficando mais propensa a ter uma "crise" de criatividade.
E a locação do filme? Conheço cada rua, reconheço nomes,  me identifico com  língua,  até o humor italiano que considero pesado já me acostumei.
Quando Fellini fala de amor, mesmo pensando  em sexo, consegue ser genial.
E não posso esquecer : Ele era livre. Foi em toda a sua vida. Foi livre até para não ser um "ragazzino per bene".